Você gostaria de prolongar indefinidamente sua juventude? Claro, quem não gostaria? Mas para isso vai ter que se preparar muito cedo...
A partir dos 11, 12 anos, nunca mais diga sua idade. Uma excelente ideia é não passar mais de ano no colégio, assim poderá dizer que foi contemporânea da turma mais moça. Vai ficar ignorante? Ora, ora.
A partir dos 20, só mantenha relações com pessoas muito mais velhas. Elas vão sempre se referir a você como “aquela menina”, e, depois de uma determinada fase da vida, ouvir essa expressão pode ser extremamente agradável.
Cometendo a insanidade de casar cedo, se tiver filhos, só permita que eles apareçam na sala até atingirem a altura de 1,10 metro. A partir daí, colégio interno direto, e nunca mais pronuncie o nome deles, nem com sua mãe. Um dia, uma amiga – aquela – vai perguntar: “E as crianças?” (a maldade humana não tem limites). Fique fria, diga que estão fazendo um curso no exterior e mude de assunto rapidinho. Se ela insistir e indagar com quantos anos estão, diminua pelo menos uns cinco, e prepare-se: um dia – a vida é cruel – essas crianças vão virar adolescentes, e você vai ter que enfrentar esse duro momento. Como? Simples: dentro de casa, pregue a liberdade e a independência. Quando estiverem ali pelos 13 anos, alugue um apartamento perto do seu para que morem sozinhos, mande sua empregada junto e compre um telefone celular para cada um. Desnecessário dizer que estão proibidos de passar pela calçada de sua casa ou comentar de quem são filhos. Se num momento de grande distração isso acontecer, corte de imediato a mesada, os víveres, tudo. E ensine: a maior prova de amor que um filho já crescido pode dar é nunca dizer, em público, a palavra mamãe.
De ginástica, lipoaspiração, do puxa-estica, nem é preciso falar, todo mundo já sabe. Os filhos cada vez mais longe, cuidando da vida deles, como se faz em países civilizados. Dizem que na Austrália as escolas são maravilhosas.
Tudo está correndo bem, mas tem o marido, aquele com quem você se casou e que virou um senhor. Se decidir trocar por outro, seja cautelosa. Um muito jovem não pode; parecer mãe do próprio marido, nem pensar. A solução é arranjar um homem rico e poderoso, de preferência suíço. Milionários não têm idade. E, apesar de os europeus não se ligarem nessa de gatinha, por medida de precaução contrate um bom despachante e, por uma módica quantia, troque a data de todos os seus documentos. Falsidade ideológica? Imagina. Qualquer juiz compreenderia. Providencie rapidamente um filho e, se a gravidez não pintar, travesseiro na barriga e adoção no fim de nove meses.
Fralda, festinha infantil, amiguinhos, o importante é passar a imagem de que está na mesma faixa etária das outras mães – você ganha aí, brincando, uns dez, 15 anos. Como na sua verdadeira idade nenhuma mulher suporta mais parque ou teatrinho, talvez você enlouqueça, mas nenhum problema; pode passar por depressão pós-parto.
Mas, um dia, você vai acordar cansada de tanto lutar e se lembrará daquela amiga filósofa que dizia: “Para não envelhecer, só não nascendo”. Enquanto se arruma para passear com os netos (tem essa também!), vê que precisa passar no cabeleireiro urgente, 1 milímetro de raiz é gravíssimo. Desmarca com as crianças, sabe que elas vão entender. E dá a primeira lição de vida, já estão com 5 e 8 anos, afinal: é hora de começar a diminuir a idade. Avó (palavra proibida de ser dita) é para essas coisas.
Danuza Leão é cronista, autora de vários livros